4 de set. de 2013

Loucura alheia?


Hoje foi mais um dia complicado de tempos fraturados (usando termo usado pelo Eric Hobsbawm) onde tudo muda para não mudar nada.

Em minha loucura particular, mais uma vez demoro para levantar para ir trabalhar e ao sair encontrei algumas pessoas que sempre vejo em meus caminhos. E ao sair do elevador me deparo com a bela moradora do mesmo edifício com seu cão, e como de costume, ela está de cabeça baixa. Só a vejo falando com outros moradores que possuem seus "pets".
Logo em seguida já estou na avenida com seu trânsito semi-permanente durante o dia quando vejo aquela mulher que em seus piores dias está conversand sozinha, mas que hoje fala ao celular. Como é típico, ela fala alto e gesticulando e assim continua por vários minutos até passar o primeiro ônibus no ponto. Subo com ela e a conversa ao celular, meio sem pé nem cabeça, continua até chegarmos na Lapa quando salto para aguardar outro veículo.
Essa vizinha gosta de mulheres e hora ou outra está com alguma namorada andando ou discutindo pela região. É óbvio que sempre ouvi que a culpa para tal comportamento é a homossexualidade, mas tenho grandes dúvidas quanto a isso, acredito que o grande problema é a incapacidade de se relacionar devido a algum trauma ou neura. O desejo de se relacionar faz com que não largue o telefone e fale sozinha quando mais desesperada. 
Enquanto penso na situação dela, já estava na Praça da República e é ali que vejo um outro velho conhecido. Era aquele idoso que quase todas as manhãs tenta controlar o trânsito (ele de novo!) e o estacionamento entre a Praça e a rua do Arouche. Ele sempre está vestindo uniforme militar acompanhado de uma boina e óculos escuros. Mais uma vez me pergunto: o que o anima a fazer isso com tanta seriedade insana? Será que se aposentou e não tem o que fazer? Será que para não se sentir só depois de perder ou ser abandonado pela família utiliza o "trabalho" nas ruas para aplacar a tristeza?
Não sei a resposta para tais comportamentos e gostaria de ser um pouco mais cara de pau para me aproximar e perguntar, mas sou um tanto fechado para tal. Ao mesmo tempo, tenho também as minhas loucuras, que não são poucas também. É fato que como eles, tenho um buraco ou trauma que me faz não me relacionar amorosamente novamente como gostaria e também tenho a mania de prorrogar ao máximo a tomada de decisões ou voltar a discutir alguns tipos de questões, ou seja, em algumas questões sou um procrastinador nato.
E assim, lutando contra nosso próprio ser, todos vamos brigando contra a própria loucura, em busca de caminhos próprios para alcançar a felicidade tão almejada e por vezes tão distante, com a diferença que uns conseguem enxergar seus problemas e tentam mudar, buscam ajuda terrena ou divina, mas há tantos por aí totalmente perdidos, sem eira nem beira, vivendo nesse mundo que desenvolve coisas maravilhosas, sociedades e organizações mundiais, templos enormes para culto, mas não desenvolveu mecanismos de apoio, de resgate, de aproximação destes que cruzam nossos caminhos e muitas vezes fazemos de conta que não existem.

Nessas horas más, nesses dias tristes e vazios sempre me lembro da bela canção interpretada pelo Peter Gabriel e Kate Bush: D´ont Give Up. Segue o clipe (com baixa qualidade) em homenagem aos que sofrem e sozinhos estão.