7 de jul. de 2013

Grupo Vida Brasil: desmistificando a velhice

Fui finalmente visitar o Grupo Vida de Barueri, instituição que cuida de idosos da região metropolitana de São Paulo. A visita foi em um dia de Festa Junina.
Legal, né? Nem tanto. Pois decidi de última hora e não estava de fato muito a fim de ir lá, admito.

A caminho fui pensando nas palavras: Grupo Vida. Não é comum em nossa sociedade pós-moderna super competiva associar a palavra vida à terceira idade. Para muitos, pode ser um contrasenso dar um nome desses a uma instituição que cuida de idosos acima de 60 anos. Afinal de conta, aquelas pessoas estão, isto sim, é no fim da vida, não é?
Não é!
É claro que discordo da parte de mim que em algum momento pensou assim. e depois de passar uma tarde por lá, discordo mais ainda tanto de mim como de quem pensa assim de forma tão pequena e velha.

Aqueles senhores e senhoras ainda tem sede de viver, sede de vida. Claro que nem sempre o corpo e a mente permite, e são em momentos como os da Festa Junina que eles tem alguns momentos para viver de forma diferente daquela que são obrigados a viver o seu dia-a-dia onde para quase tudo precisam do outro. O outro nesse caso, não são seus familiares, parentes e amigos. O outro é composto pela equipe do Grupo Vida, profissionais que ganham para cuidar deles, para se relacionar com eles, uma vez que a sociedade não tem paciência ou amor para fazê-lo.

Mas vamos deixar de lado essa lenga-lenga e vamos à festa!


Logo ao ligarmos o som, começa a excitação! Os que andam passam a dançar, os que estão nas cadeiras de rodas balançam os pés e as mãos. Os que já não movem bem os membros, movem as cabeças ou apenas riem.
O poder da música e a vida em ação.

Em seguida, as barracas começam a se abrir, e quem são os primeiros a se dirigirem a elas? (Meu pai e eu, mas não vale, somos mortos de fome!) Mas logo depois de nós, lá estão os velhinhos em busca das comidas e bebidas nas barracas de alimentos. Mas não só. Eles também vão até as barracas de brincadeiras. Eles querem jogar argolas nas garrafas e bolas na boca do palhaço!
Como bons seres humanos que são, eles aproveitam para aprontar. Vejo dois senhores de cadeira de rodas, fumando um de frente para o outro. Me dizem que um deles deu um cigarro para o outro que não pode fumar, mas morre de vontade. Logo depois, uma senhora pede para eu buscar um cachorro quente para ela e quando o entreguei, ela o repassou para uma visitante na maior cara de pau (os visitantes recebiam um kit de fichas com número limitado de lanches, bebidas e brincadeiras e provavelmente a acompanhante já havia terminado e como os moradores podiam pegar quantos itens quisessem, a senhora de aproveitou da situação).
Quem vive se alimenta, brinca e quebra regras e normas.


Entretanto, o que mais ansiosamente esperam é pela cantoria e pela quadrilha! Os homens, normalmente mais amuados se postam em posição. Um deles, tira de uma sacolinha plástica seu pandeiro e desde aquele momento acompanha as músicas batendo-o devagar só aguardando a violeira ligar a viola no som picareta (faltam recursos). Quando a viola é ligada, mais homens se aproximam dos três cadeirantes e se postam logo atrás e não vêem a hora da música se iniciar.
É claro que a escolha musical recai sobre as famosas canções caipiras melodiosas e com força eles cantam Chico Mineiro, o Rio de Piracicaba e outros clássicos, cantadas sempre com a entonação máxima possível e com muita emoção revivem seu passado naquelas letras. Quase me esqueço de dizer que antes de uma das canções um dos homens, aparentemente o poeta do lugar, recita uma poesia, daquelas típicas que iniciam algumas canções. E todos em volta riem ou choram.
Novamente a música e a vida em ação.


E finalmente, chega o momento da quadrinha, e o casal que vai "casar" são chamados e preparados. O belo e sorridente casal se apresenta em suas cadeiras, se aceitam perante o velho padre e o noivo beija a noiva de sopetão sem ninguém esperar. Depois disso, são 13 minutos de dança da vida incansável, cheia de trapalhadas, chapéus caindo e voltando para as cabeças, gente entrando na roda, um idoso saindo bravo da roda e indo se sentar e uma das senhoras levantando a saia até a cabeça até a coordenadora encerrar a festa e dizer que os idosos precisam descansar....

Descansar que nada!
Enquanto parte dos visitantes se vai, muitos deles permanecem no mesmo lugar conversando ou ouvindo música enquanto desmontamos as barracas. Quando terminei de ajudar vou até uma imensa sala chamada "aconhego dos amigos da residência" lá estão boa parte dos velhinhos assistindo o jogo da seleção brasileira atentos e alertas. Fico um pouco e volta para o grande quintal e vejo uma velha senhora encostada na caixa de som, uma outra, que pouco vi se movimentar a tarde inteira estava lá brincando de estourar bolhas de sabão jogadas por uma menina, as duas rindo bastante.

Finalmente, depois de organizar tudo a equipe da instituição se reúne para uma foto quando uma das idosas que mais aprontaram (a que levantou a saia) aparece e também se postou para a foto.


É. Quem está vivo, está no Grupo Vida.


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