3 de mai. de 2012

Amor cego

Eclethion vivia em uma tremenda fossa.
Há meses terminara um relacionamento complicado e além de enfrentar a solidão, sua velha companheira, também estava zerado financeiramente. Sua última paixão havia levado seu pequeno saldo bancário ao limite do cheque especial e seus cartões de crédito estavam bloqueados para novos gastos. Aquilo era uma fossa ou o fundo do poço?
Restou-lhe navegar na Internet para passar o tempo e procurar por novas aventuras, pois também se distanciara de seus amigos durante o infeliz relacionamento.
E foi no hoje velho Orkut que encontrou uma bela e misteriosa loira: 1m65 de altura, cabelo lisinho, pele clarinha sem marcas (pelo menos as áreas disponíveis nas fotos compartilhadas), professora e moradora da cidade litorânea de São Sebastião (é mano, agora que ele iria semana sim, semana não, à praia!). Detalhe: julgou-a misteriosa porque em suas fotos não mostrava o rosto.
Logo, começaram a conversar via MSN e em seguida também por telefone. E nada da danada revelar sua suposta linda face. O máximo que mostrara certo dia foi sua boca. Ah, que lábios, relembrava ele! Mas não havia do que reclamar, afinal, quem vê cara não vê coração e ele sentia que aquele coração era lindo.
Sim, acredite, ele se apaixonara pela mulher sem face!
Durante as conversas, faziam planos sobre o primeiro encontro, o segundo, o terceiro e tantos mais.....
Viveram, à distância, momentos de entrelaçamento profundo. Tanto que certo dia, o pai dela falecera e ela ligou para ele chorando e ele chorou junto.
Parecia que o dia do encontro chegaria cedo e ele poderia consolá-la em seus braços, enxugar de seus rosto suas lágrimas... Eclethion era um romântico.
Dias depois, ela enviou a primeira carta, não uma simples carta, mas uma carta perfumada! Logo, ele percebeu que ela curtia perfumes importados. E foi logo comprando na primeira loja virtual que encontrou o perfume preferido dela. E claro, descobriu que ela gostava de homem perfumado, e foi logo comprando seu primeiro perfume importado. Era um Hugo Boss. E lá foi ele escrever uma carta perfumada também... 
O romance avançava e começou a enviar mais presentes: flores, bombons e mais flores e mais bombons. Escreveu algumas cartas em formato de diários demonstrando que não parava de pensar nela.
Foram momentos inesquecíveis para ele, que não notou que ela, apesar dos agradecimentos, pedia para não enviar tantos presentes. Enquanto ele se aproximava, enviando mensagens e mais mensagens SMS e presentes, ela se afastava. Até que um dia ela pediu para ele se cuidar e procurar um psicólogo, pois ele era muito carente. Ele não a ouviu, mas sentiu finalmente o afastamento. Afastamento que só aumentou nos dias seguintes até ela desparecer de sua vida sem ter nunca revelado sua misteriosa face.
Eclethion manteve-se endividado, solitário e triste.
Mas desde aquela época passou a usar perfume importado e anda cheiroso por aí, espreitando por novas confusões amorosas!

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