24 de abr. de 2012

Biblioteconomia nas décadas de 1940 e 1950


Início este blog hoje. Vamos ver se consigo avançar. A idea é publicar achados literários e informações sobre bibliotecas, bibliotecários e assuntos ligados à leitura.

Vamos ao que interessa agora.

Nesta noite de terça-feira fui guardar alguns livros no andar onde estão armazenadas as obras antigas de biblioteconomia da Mário de Andrade. Como é comum, guardei as obras e comecei a garimpagem.

Em meio há uma porção de obras estrangeiras bastante utilizadas no passado, foquei na localização de livros escritos em língua portuguesa. Em meio a vários títulos interessantes selecionados, falarei um pouco de dois deles.


O primeiro chama-se "Regras gerais de catalogação e redação de fichas". Trata-se de um manual de poucas páginas criado por uma comissão da hoje falida Associação Paulista de Bibliotecários, em 1941.

Chama a atenção a equipe que o elaborou, composta simplesmente por Rubens Borba de Moraes (dispensa apresentação), Adelpha Figueiredo (futura bibliotecária-chefe da Biblioteca Municipal e professora do curso de Biblioteconomia), Maria Antonieta Ferraz e Guiomar Carvalho Franco. 

Logo na apresentação, o espirito colaborativo daquela turma salta aos olhos no seguinte trecho: "De acordo com o mandato que recebeu, a comissão não cogitou de estabelecer um "código de catalogação" mas somente normas das principais regras básicas tendo em vista a situação dos catalogadores das pequenas bibliotecas, longe dos grandes centros e impossibilitados de manusear os grandes códigos universalmente consultados".
Ao ler o trecho acima me lembrei da palestra da presidente da ALA (American Library Association), Molly Raphael, ocorrida há poucos dias aqui em São Paulo, onde a mesma desenvolve um programa de mentores, onde os profissionais mais novos tem oportunidade de realizar encontros de várias formas com outros mais experientes.
Enfim, naquela época, mais importante era a colaboração do que a competição, e acredito, sem pieguismos, que foi um dos caminhos para a formação de bons profissionais em um período onde eram poucos e novos os cursos existentes. Aqui na prefeitura isso morreu nos últimos anos, mas tenho visto sinais de renascimento. Que assim seja!


O segundo texto na verdade não é um livro! É um artigo, na verdade uma separata, do Boletim Bibliográfico da Biblioteca Municipal (hoje Mário de Andrade), publicado em 1950. Escrito por Antonio D'Elia da Secção de Expediente da Divisão de Bibliotecas.
No artigo, o autor descreve a necessidade de criar "Um ante-projeto de regulamento para a Biblioteca Municipal de S. Paulo" e logo de cara um dos motivos da criação de tal regulamento era atender aos pedidos frequentes de "solicitação de envio de regulamento da nossa Biblioteca, considerada modelar" pedidos "de vários Estados e de alguns municípios de S. Paulo - e mesmo do estrangeiro".
Do artigo, extenso, poderia destacar vários tópicos mas me detenho a dois trechos:
- A Quarta Parte, discorre a respeito "Do funcionalismo e do "pessoal menor" da Divisão de Bibliotecas". Claro que o pessoal considerado "pessoal menor" me chamou a atenção! Tratam-se de pessoal re-estruturado possivelmente contratado através de outra maneira que a usual à época.
Fica a impressão que desde aquela época o funcionalismo tradicional olhava com olhar torto os contratados de forma diferente do funcionalismo público tradicional. Infelizmente, logo que entrei na Biblioteca notei que alguns bibliotecários tratavam como "pessoal menor" todos os não bibliotecários.... É o preconceito brasileiro sempre à mostra descaradamente para quem quer vê-lo!
- Na Secção V, Da Secção de Biblioteca Infantil (hoje Biblioteca Monteiro Lobato) notei um artigo divertido e por que não bastante ditatorial, ei-lo:
Artigo 20 - De todo livro emprestado é exigida uma síntese, em ficha especial, que registra as impressões do pequeno leitor.
Sensacional, não?!
Além disso, vale a pena consultar as atribuições dadas àquela biblioteca. Não sei se tudo aquilo ocorria, mas era algo muito moderno que incluir: manter um serviço de cinema educativo e recreativo, manter serviço de jogos educativos e recreativos, manter jornal mensal mimeografado, manter um museu de pedras diversas, cartões postais, instrumentos de índios brasileiros, manter o Grêmio Cultural, organizar uma galeria de fotografias autografadas de escritores brasileiros, obtidas pelas próprias crianças e promover excursões e visitas a fábricas, estabelecimentos de ensino, etc.




O que sobrou disso hoje? Visita as bibliotecas citadas e outras públicas pelo país quando puder, tire suas conclusões, compare e proponha algo novo ou uma revisão do que era bom antes e pode ser hoje e amanhã!

Para encerrar, informo que os dois livros e outros que separei estão disponíveis para consulta na Biblioteca Mário de Andrade, na Coleção Geral.

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