30 de jan. de 2012

Dia da saudade

Vou dar uma pausa na política e na crítica social e vou postar lembrança que traz saudade, afinal, li há pouco que hoje é dia da Saudade.

E admito que estou com saudades de viver aquela coisa tão boba, tão tola, mas tão gostosa que é se apaixonar.

Posto abaixo uma poesia que fiz em 2004 para uma amiga que havia se tornado uma namorada.

É engraçado, mas tolamente terminei aquele relacionamento.... a Erika, a quem dediquei e entreguei a poesia era uma fofa.

Saudades!

Já penso em ti
Em conviver contigo

Ainda tenho medo,
Logo percebo
E tremo

Temo errar,
Caminhos de dor
Criar

Sei que quero amar
E ao você espiar
Meu coração novamente
Se pôs a gritar!

Sorri sozinho
Ao ver seu olhar
Meigo a me contemplar
Uma satisfação meio boba,
Outros podem pensar

Mas seu primeiro olhar,
E outros olhares,
De repente
Fizeram em mim
Esperança brotar!

Mas ainda paro, penso
E quero me certificar
De que tudo vá
Harmoniosamente,
Um dia, se encaixar!

02/04/04 – 22:00

28 de jan. de 2012

Invasão policial no Pinheirinho


PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO
A reintegração de posse no Pinheirinho, em São José dos Campos, deveria ter acontecido?

O conluio entre os poderes econômico e político
Até quando os noticiários dos jornais e da televisão mostrarão as cenas degradantes dos despejos de famílias sem-teto?
A mais recente delas, realizada em uma área de São José dos Santos, expulsou famílias que ocupavam, há oito anos, uma área periférica da cidade.
Oito mil policiais foram desviados das suas funções de manutenção da segurança da população para essa inglória tarefa.
Agindo com violência, esses policiais feriram as pessoas, destruíram as casas e os objetos dessa pobre gente, atingindo até as crianças. Foi uma barbaridade.
O promotor público, obrigado por lei a presenciar essas operações, brilhou pela ausência.
Chama a atenção igualmente a ausência de parlamentares, especialmente daqueles pertencentes aos partidos de esquerda.
Com a exceção honrosa do senador Eduardo Suplicy, é muito raro ver parlamentares presentes nesses eventos com a finalidade de prevenir excessos da força policial.
O mais incrível é que o mesmo Estado que realizou o despejo estava negociando com o proprietário do terreno a aquisição da área, para vender aos ocupantes.
Os advogados dessas famílias fizeram um grande esforço para demonstrar à juíza do processo que a solução do problema era uma questão de dias.
Indiferente ao drama humano que sua decisão causaria, a juíza aplicou mecanicamente a lei e determinou o despejo.
Não contente, um juiz de direito acompanhou o despejo e indeferiu de plano, em pleno local, todas as petições que foram apresentadas pelos advogados com o proposito de evitar a execução do mandado.
Só se justificaria a presença de um magistrado em eventos desse tipo se fosse para prevenir excessos da força policial.
No entanto, a presença de um juiz de direito no Pinheirinho não causou nenhuma inibição nos soldados, em uma evidente demonstração do conluio entre o poder econômico e o poder político nos Estados hegemonizados pela burguesia.
Nesses Estados, a prioridade primeiríssima é sempre a defesa do sacrossanto direito de propriedade. Todo o resto -os direitos humanos, a integridade física, os pequenos pertences das pessoas- fica subordinado ao direito maior.
Por isso, o direito à propriedade de um milionário relapso, que deve milhões de tributos não pagos ao Estado brasileiro, justifica o espancamento de pessoas e a destruição de seus bens.
E agora? Como ficam as famílias despejadas? Quem cuidará delas?
Elas obviamente irão ocupar outra área. Serão novamente expulsas e voltarão a sofrer os mesmos vexames e as mesmas violências.
Isso acontece e continuará acontecendo enquanto não houver uma legislação que coíba a especulação imobiliária, porque é ela que causa o aumento extorsivo do preço dos terrenos e, desse modo, exclui as famílias pobres do mercado.
Pacífica, despolitizada e sem organização, essa população tem aceitado a situação intolerável sem recorrer à violência. Até quando?
Isso vai continuar acontecendo enquanto os partidos de esquerda deixarem de cumprir seu papel de conscientizar e organizar essa massa, para que ela resista a esses ataques de armas na mão.
Na hora em que isto for uma realidade, não haverá violência, porque a consciência dessa realidade será suficiente para manter os cassetetes na cintura.
PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO, 81, advogado, foi deputado federal pelo PT-SP (1985-1991), consultor da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) e candidato a presidente pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade)

24 de jan. de 2012

Parabéns para você? Não. Por que?

É sempre educado agradecer os parabéns em seu aniversário e agradeço.

Entretanto....

Não posso aceitar passivamente os parabéns.
Não posso.

Mas vamos, ao que eu quero me dar de presente após este aniversário.

Preciso resolver questões há anos e não resolvo. Há pessoas esperando por uma resolução.

Preciso amar mais ao próximo. Ir além de levantar situações e divulgá-las. De que adianta ver, falar e nada de fato fazer?

Preciso aprender a obedecer quando preciso.

Preciso reaprender a ouvir e depois responder.

Preciso começar tudo que inicio.

Rever os amigos, fazer novos e desejar feliz aniversário para eles.

Quero viver com razão suportada pelo coração, e assim, poder fazer como um teólogo da Igreja Ortodoxa Russa citado pelo Rubem Alves: Não há mais nada a fazer. Era hora de se entregar inteiramente ao deleite da vida: ver os cenários que ele amava, ouvir as músicas que lhe davam prazer; ler os textos antigos que o haviam alimentado. Acrescento que mesmo avançando em várias coisas, continuarei trabalhando, vivendo os momentos que devem ser solitários e também aqueles em comunidade.

21 de jan. de 2012

São Paulo, eu, Bob Wolfenson e a tal arquitetura do preconceito

Reencontrei outro dia um livro publicado pelo Bob Wolfenson, o fotógrafo das celebridades.

Preconceito à parte, a obra, chamada Antifachada (http://www.bobwolfenson.com.br/v2/en/exhibitions/antifachada) é uma ode a feiúra de parte significativa dos prédios de São Paulo.

Logo, uma coisa que fiz agora há pouco quando caiu uma imensa tromba d'água foi tirar fotos de uma das janelas do meu apartamento, local que há muito tempo não parava para olhar com atenção.
Percebi que as fachadas que vejo da área de serviço dariam belas fotos do Bob (que intimidade já...).

Vejam:




Eis algo que compartilho com o fotógrafo: as imagens da cidade de São Paulo e as beldades que ele fotografa e eu olho cheio de inveja.

Em tempo, ele tem uma bela exposição de fotos do Bom Retiro.
http://www.bobwolfenson.com.br/v2/en/exhibitions/bom-retiro

Aproveito para postar fotos de algumas fachadas, portões, portas de aço de vários prédios da cidade onde adaptações para evitar roubos e a presença de moradores de rua e viciados em drogas como o crack criaram uma arquitetura do preconceito ou também do medo.

Fica a pergunta, é possível mudar situações destas? De uma forma ou de outra todas as fotos revelam como moram e vivem parte dos paulistanos, migrantes e imigrantes.

 Correntes

 Luz de segurança anti-morador de rua com sono

 Casinha de aço anti-encosto de moradores de rua

 Portão de aço engradado

Mural anti-assento 

 Mural anti-assento dos Correios

 Detalhe do mural anti-assento dos Correios

 Bela entrada do edifício Adelina engradado

 Simpático mini-muro jardim da Santa Casa de Misericórdia

 Lindinho, não?

 Grades e luz forte em simpático prédio da Vila Buarque

Jardim suspenso da Vieira de Carvalho 

 Jardim suspenso da Vieira de Carvalho, maravilha do centro!

 Barra de aço anti-invasão de veículos, chique, até na Oscar Freire tem!

Os bancos não poderiam ficar de fora! São eles os patrocinadores das artes e das inovações nas agências bancárias.
 Santander da Rio Branco: vidros anti-moradores de rua

 Itaú: grades branquinhas!

 Citibank da São João com a Ipiranga. Por que será que o Caetano não cantou essa belezinha?

 Outra bela entrada gradeada de edifício na Guaianazes. Já deve ter sido um privê....

 Belezura de grades escondem formosa entrada

 Mais Santander da Rio Branco!

Pedaços de vidro no muro envolta da Favela do Moinho 

Elegância enmurada nos baixos Higienópolis!

11 de jan. de 2012

Longos aforismos

Tudo e todos estão contra você? Pode ser, mas santo, avalie-se e veja que você não é perfeito e também provoca os outros.

Enquanto não chega o que você tanto espera aproveite a vida sem esperar.

Um amor não encontrei, mas no caminho amores deixei. Seria ótimo, ao menos uma vez retroceder, não é?

2 de jan. de 2012

Igreja Mundial x O Senhor dos anéis

Acabo de assistir ao filme "O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei" e me deparo com a informação do caos no trânsito próximo ao Aeroporto Internacional de Guarulhos aqui em São Paulo.
Segundo algumas informações, a culpa do caos não foi toda da inauguração da sede nova sede da Igreja Mundial do Poder de Deus, uma vez que um pouco de caos é natural do retorno para São Paulo de parte dos veículos que foram embora para as comemorações do Ano Novo.
Entretanto, vi uma foto com vários ônibus e uma porção de gente trafegando pela rodovia Dutra tomando parte de uma das pistas.
O povo todo estava lá para acompanhar a inauguração de um mega templo! A idéia do líder da igreja, o tal Valdomiro (só isso, afinal prometi xingar menos as pessoas nesse ano de 2012!), é poder reunir o povo para louvar a Deus. Sonho louvável, mas.... será que é só para isto? Será necessário mesmo um templo tão amplo? Não seria melhor templos locais menores? Ahh... mas não dá, ele não é onipresente para ser bajulado e paparicado em todos os locais. E claro, 150 mil pessoas em frênesi contínuo é muito mais fácil de ser manipulado...
A partir desse pensamento faço a comparação com parte do filme.
O pano de fundo é o seguinte: dois personagens (Pippin e Gandalf) saem de uma conversa não muito amistosa com o regente do reino de Gondor e vão para uma espécie de sacada da imensa Minas Tirith e o mago Gandalf discorre sobre o motivo da perda da glória do reino de outrora.
Qual foi motivo?
Os reis e seus entes próximos começaram a fazer belos e imensos túmulos para si próprios e esqueceram-se do povo, levando todos à ruina.
Para finalizar logo, pois estou fora de forma para escrever, penso que ocorre o mesmo com esta igreja. Ao invés de investir no desenvolvimento dos fiéis que diz amar tanto, a igreja prefere construir prédios. Isto me lembra bastante a igreja católica, cujo poder e influência se perderam no tempo e nunca mais foram recuperados porque investiu mais em si mesma do que no povo. E nem cito os diversos governantes e ditadores que fizeram o mesmo.
E claro, não posso esquecer o nosso judiciário. Basta dar uma olhada nos maravilhos edifícios construídos pelos diversos tribunais no país para identificar o mesmo tipo de ação: mordomia para quem devia servir!
Um dia, a casa cai!

1 de jan. de 2012

Um Brasil sem favela?


As políticas públicas do país para favelas são insuficientes e ineficientes; se nós quisermos, podemos garantir que crianças não mais cresçam em barracos
IBGE: mais de 11 milhões de brasileiros vivem em 6.329 favelas em 323 municípios. É uma triste realidade, que se perpetua por gerações como o mais hediondo monumento à desigualdade social no Brasil.
Quase a metade situa-se na região Sudeste (145 municípios), dos quais metade (75) nas suas regiões metropolitanas. O fenômeno da favelização é urbano e metropolitano, pois 88,2% dos domicílios em favela estão nas regiões com mais de 1 milhão de habitantes.
Nossas políticas públicas para favelas são desarticuladas, insuficientes, ineficientes, com obras inadequadas e mal feitas (quando feitas), sem nenhuma previsão de manutenção, num descaso social inaceitável e que atinge, sobretudo, as crianças do país.
O IBGE mostrou que a densidade demográfica é maior na favela que na cidade formal e que um barraco tem mais crianças que uma casa regular. Só não tem mais idosos, pois o índice de natalidade é maior na favela, mas não o de longevidade.
Num país com imensas reservas de calcário e argila -matéria-prima de todos os cimentos; com parque siderúrgico, portanto, com vergalhões, perfis, chapas de aço; com sílica à vontade, portanto, com todo tipo de vidro; com um polo petroquímico que produz tinta, borracha e plástico; que possui madeira de todo tipo, exporta alumínio e ainda conta com um exército de serventes, pedreiros e carpinteiros, uma pergunta persiste.
Por que, meu Deus, tanta gente vive em barracos, sujeita a incêndios ou a morrer soterrada na lama e no lixo nos temporais?
Por que tanta laje sem telhado, de onde em dia de sol não é raro cair uma criança soltando pipa ou uma dona de casa estendendo roupa e, em dia de chuva, se formam milhões de poças para criatório do mosquito da dengue?
O Minha Casa, Minha Vida é excepcional, mas alcança uma população acima da miséria.
O Fundo de Habitação de Interesse Social, do qual tive a honra de ser relator, supre convênios com prefeituras e Estados, mas sua natureza não é de ir à favela para reformar ou jogar no chão um barraco e em seu lugar edificar, com mão de obra local e em só três dias, uma casa para ser entregue mobiliada e pronta.
Foi o que fizemos, por exemplo, para uma viúva pobre de 54 anos, que pesava 32 quilos e que criava sozinha três netos, que provia com ajuda da divina Bolsa Família.
Ela me disse: "Eu passo fome, meus netos, não!". Mais não se podia dizer para retratar a dignidade e o espírito de renúncia de quem, nada tendo, doa a si mesmo. Ela foi mais uma beneficiada do Cimento Social, programa que desenvolvemos há anos na Providência, tentando criar no Brasil esse cimento para unir profissionais, empresários, universidades e sobretudo os governos num "Movimento Brasil sem Barraco".
No Rio, a prefeitura adotou o Cimento Social e indicou Mangueira e Andaraí para começar. Se todos quisermos, podemos garantir que no Brasil nenhuma criança nasça, cresça e sobreviva em barraco.