4 de out. de 2009

Olímpiadas e realidade brasileira

JUCA KFOURI

Uma chance de ouro
Sediar uma Copa do Mundo de futebol e os Jogos Olímpicos pode fazer do Brasil o país do século 21
PRIMEIRO é preciso dizer que a escolha do Rio para sediar a Olimpíada de 2016 foi fruto de um trabalho brilhante. Pura ficção, mas brilhante.
Quem viu o Pan-2007 não tem por que acreditar em nenhuma das promessas feitas e sabe que aquela cidade maravilhosa que os filmes mostraram não existe. É claro, porém, que pode existir. Bastará gastar o que está previsto, de fato, nela.
Em segundo lugar, é preciso dizer com todas as letras e sem nenhuma ironia que nunca, jamais, o Brasil teve um presidente da República como Luiz Inácio Lula da Silva. Nunca, jamais e em tempo algum.
Nenhum governo antes tirou tantos milhões de brasileiros da linha de pobreza, diferença maior dele em relação a todos os seus antecessores.
Porque, de fato, um presidente preocupado com os excluídos, coisa que os outros só conheceram na teoria, enquanto Lula foi um deles, na prática.
E nenhum governo antes do dele conseguiu projetar tanto o Brasil internacionalmente, não à toa chamado de "o cara" pelo surpreendentemente derrotado poderoso presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.Sim, reitere-se aqui que a vitória carioca é a maior surpresa do colunista em quase 40 anos de exercício do jornalismo.
Mas Lula simplesmente não só trouxe os dois maiores eventos mundiais para o Brasil como, ainda por cima, se não fez da crise internacional apenas uma marolinha, tratou de impedir que fosse um tsunami por aqui.
Bem ele, o único que não falava inglês na comitiva quase totalmente da elite branca que o país mandou para Copenhague.
Fenômeno, sem dúvida, fabulosamente macunaímico, cercado por inúmeras histórias mal contadas, algumas que até envolvem assassinato, como a do prefeito de Santo André, Celso Daniel.
Desnecessário dizer que haverá roubalheira. Como haveria, já foi dito, também em Tóquio, em Chicago, em Madri e está havendo em Londres, que receberá a Olimpíada de 2012. Mas nós não vivemos nem nos Estados Unidos nem na Espanha nem no Japão. Nem na Inglaterra.
E desnecessário dizer que fiscalizaremos -e descobriremos uns 10% das tramoias. Ainda mais em ano eleitoral, como 2010.É difícil exercitar a esperança quando a experiência já ensinou o que precisava em relação aos que comandarão o projeto olímpico.
Gente que fechou as portas aos maiores empresários do Rio de Janeiro e que fez questão de acumular cargos, como faz Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB e do comitê organizador da Olimpíada.
Assim como, aliás, Ricardo Teixeira acumula os cargos de presidente da CBF e do comitê organizador da Copa do Mundo, diferentemente do que acontece e aconteceu em todas as outras partes do mundo, basta lembrar de Michel Platini, na Copa da França, ou de Franz Beckenbauer, na da Alemanha.
Lula não gostava dessa gente e a colocou no topo do mundo. Sem se preocupar em ter uma política esportiva para o país.
Se a Rio-2016 mudar tal estado de coisas, valerá a pena. A ver.